68 foi considerado um dos melhores anos para a música. No cenário brasileiro, Roberto Carlos e a ascensão dos tropicalistas marcaram o período com canções de protesto e discussões sobre política e estética. O tropicalismo tomou forma definitiva e hoje consegue dividir espaço com a bossa nova como símbolo da musicalidade do Brasil. A jovem guarda entrava em decadência, mas Roberto Carlos brilhava cada vez mais como estrela, e logo, não se vincularia a qualquer grupo específico. Dentro de pouco tempo, seria coroado como o maior cantor do país.
Mas a grande exaltação estava nos festivais e na chegada do movimento tropicalista. Diferentemente da Bossa Nova, que introduziu uma forma original de compor e interpretar, a Tropicália não pretendia sintetizar um estilo musical, mas sim instaurar uma nova atitude: sua intervenção na cena cultural do país foi, antes de tudo, crítica. Era também a época em que a guitarra elétrica na música brasileira foi considerada uma heresia para muitos, tornando o tropicalismo, com sua união de brasilidade e não-brasilidade, motivo de discórdia.
Os Tropicalistas não queriam superar a Bossa Nova, da qual Veloso, Gil, Tom Zé e Gal foram discípulos assumidos, especialmente do canto suave e da inovadora batida de violão de João Gilberto. No início de 1967, esses artistas sentiam-se sufocados pelo elitismo e pelos preconceitos de cunho nacionalista que dominavam o ambiente da chamada MPB. Depois de várias discussões concluíram que, para arejar a cena musical do país, a saída seria aproximar de novo a música brasileira dos jovens, que se mostravam cada vez mais interessados no pop e no rock dos Beatles, ou mesmo no iê-iê-iê que Roberto Carlos e outros ídolos brasileiros exibiam no programa de TV Jovem Guarda.
Em outubro, os tropicalistas conseguiram um programa semanal na TV Tupi. Com roteiro de Caetano e Gil, Divino, Maravilhoso contava com todos os membros do grupo, além de convidados como Jorge Ben, Paulinho da Viola e Jards Macalé. Os programas eram repletos de cenas provocativas. A influência do movimento também ficou evidente em dezenas de canções concorrentes no IV Festival de Música Popular Brasileira, que a TV Record começou a exibir em novembro.
Com o endurecimento do regime militar no país, as interferências do Departamento de Censura Federal já haviam se tornado freqüentes, canções tinham versos cortados, ou eram mesmo totalmente vetadas. A decretação do Ato Institucional nº 5, em 13 de dezembro de 1968, oficializou de vez a repressão política a ativistas e intelectuais. Caetano e Gil foram detidos e, em 27 de dezembro, precipitaram o enterro da Tropicália, embora sua morte simbólica já tivesse sido anunciada, nos eventos do grupo. Apesar de ter se revelado tão explosiva quanto breve, com pouco mais de um ano de vida oficial, a Tropicália seguiu influenciando grande parte da música popular produzida no país pelas gerações seguintes.
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